Por que bons palestrantes não se destacam também em discussões digitais
Sonia Guimarães tem 67 anos. Sempre foi muito pouco afeita às inovações tecnológicas, mas tem discutido receitas e acompanhado repercussões da COVID-19 por meio de vídeos ao vivo. Ela não é a única. De acordo com o Instagram, em março de 2020 o consumo de lives cresceu 70% nessa plataforma só nos Estados Unidos. Impulsionado pelo distanciamento social, o mesmo interesse foi observado nas plataformas Zoom e Google Meet, entre outras.
Entretanto, a transição do ambiente físico do auditório para o digital não é simples, e mesmo um excelente palestrante precisa adaptar a linguagem, ritmo da comunicação e narrativa para conseguir manter focado um público expectador que oscila em perfil, quantidade e interesse durante toda a apresentação.
A seguir, dicas valiosas para palestrante nenhum fazer feio quando participar da próxima live:
O meio é a mensagem.
Ainda que possa durar os mesmos 40-60 minutos de uma aula em auditório, a live é muito mais interativa e, na maior parte das vezes, lembra um “bate-papo”, sem espaço para slides. Na prática, isso significa que o palestrante terá muito menos tempo para defender seu ponto de vista e o fará sem o suporte do recurso visual. Para prender a audiência, você deve ser ágil e objetivo nas colocações. Vá direto ao ponto, evite colocações longas ou que tergiversam sobre o tema principal.
Menos marketing pessoal e mais conteúdo.
Suas ideias são mais interessantes do que seu histórico. Não perca tempo com apresentações pessoais. Em geral, as pessoas querem saber o que seu conhecimento pode lhes acrescentar. Elas não estão ali para ouvir sobre seu Curriculum Vitae (CV). Descrição detalhada da empresa onde se trabalha e CV são itens da divulgação ou, no máximo, para serem colocados no chat de comentários pelo organizador.
Saiba quem são os verdadeiros protagonistas.
O moderador em uma live é secundário. Com raras exceções, o moderador não tem a mesma importância que ele costumava ter em mesas de congressos científicos. Se antes essa figura era a de mais notório saber e respeitabilidade, em lives, o moderador desejado é alguém conhecedor do tema, mas também familiarizado com a plataforma e cioso de seu papel secundário na discussão. Ele está ali para orientar e provocar o debate, não para roubar o curto tempo de fala de cada debatedor.
Respeite a fala do outro.
“Falatório” é justamente o que deve ser evitado. Também por causa do delay de algumas conexões de internet, é ainda mais importante que um debatedor só comece a comentar quando o outro concluir seu argumento. Mais do que educação, é sinal de respeito pelo ouvinte, que tem dificuldade de acompanhar quando as vozes se atropelam na transmissão.
Pense bem na locação.
Escolha um local claro para a transmissão e nunca contra uma janela, sob risco de parecer uma sombra para quem assiste. Teste a conexão de internet com antecedência e avise a todos da casa a importância de se evitar ruídos naquele intervalo. Se possível, busque o local mais silencioso da casa, tranque a porta e fixe um bilhete para não ser incomodado. Exagero? Quem nunca presenciou um debatedor ao vivo sendo interrompido pelo choro de uma criança, latido de cachorro ou roncar de uma moto?
Ajude quem assiste a manter a concentração.
Assistir a uma live sem perder o foco é uma tarefa árdua. Lembre-se de que o ouvinte o vê do próprio celular ou desktop, sendo a todo momento interrompido por notificações de WhatsApp e e-mail. É praticamente impossível manter os mesmos níveis de audiência após os primeiros 50 minutos. Com moderação, movimente-se na tela de vez em quando e altere o tom de voz de acordo com a ênfase de cada ideia que apresenta.
Ensaie antes com os demais participantes.
“Combine com os russos”. Dez minutos de conversa com o moderador e demais debatedores nos dias que antecedem à live são essenciais para vocês combinarem as questões centrais e já deixarem algumas perguntas “na manga”. Participar de muitas lives em uma mesma semana e a certeza de que já dominam o tema têm feito muitos palestrantes negligenciarem essa etapa. Resultado? Falam mais do mesmo, com participações cada vez mais desinteressantes.
Chegue com antecedência.
Planeje-se para entrar no link da plataforma com 20 minutos de antecedência. Esse é o tempo adequado para o organizador do evento observar a qualidade de sua imagem e de som.
Muita gente no debate? Fuja!
Entre 40 e 60 minutos de transmissão, é impossível que mais de 3 debatedores consigam se expressar com continuidade e relevância. Poucos e bons debatedores fazem uma conversa de qualidade. Fuja de convites com muitos debatedores; elas desperdiçam o seu tempo e também o dos ouvintes.
E, se mesmo depois das dicas, precisar de ajuda com a organização, transmissão ou curadoria, procure-nos na GPeS Health Branding and Business.
Abraços e até a próxima!
Por Gilmara Espino, sócia-diretora da GPeS | Health Branding and Business
Sobre o autor:
Gilmara Espino é administradora com MBA e Mestrado em Gestão em Saúde pela FGV. Sócia e diretora na GPeS Health Branding and Business, atua como consultora de comunicação e marketing para projetos de saúde. Foi publisher da revista Melhores Práticas em Qualidade e Gestão em Saúde. https://www.linkedin.com/in/gilmaraespino/